Os desalojados de Camarate, a celebre Escola Azul na Portela e o " pequeno truque politico" de Demetrio Alves. Em Janeiro de 1993, uma ordem de desocupação põe 650 pessoas na rua. A ordem do Tribunal Judicial de Loures cumpre-se sem incidentes, com uma forte presença da GNR. As pessoas retiram os seus haveres dos dois edifícios onde estavam a morar. Sem outra casa para onde irem, os então desalojados ficam ali mesmo, na rua. Vivem ao relento durante vários dias, até que são abrigados provisoriamente numa fábrica desactivada, em Sacavém, e num armazém, em São João da Talha, alugado pela Câmara de Loures.
Nos anos 70, o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) tinha alugado dois edifícios em Camarate, para albergar provisoriamente portugueses vindos das ex-colónias, a maioria de Moçambique. Mas, após a extinção do IARN em 1981, os edifícios conhecidos como Lar Panorâmico de Camarate continuaram cheios de gente. Alguns dos que inicialmente ali tinham sido alojados nunca abandonaram o local, outros vieram já nos anos 80 ocupar quartos que entretanto tinham ficado vagos. O proprietário quis reaver o imóvel. Em 1991, pôs uma acção no tribunal de Loures em nome de uma Fundação – a Fundação Santa Maria da Silva - e ganhou. Na altura, a SIC acompanhou a história e o drama humano dos desalojados do Lar Panorâmico, desde o dia do despejo. O processo foi longo e difícil, com inúmeros episódios de tensão social e luta política, entre o então governo de Cavaco Silva e a Câmara liderada por Demétrio Alves. Em vários momentos, os desalojados foram hostilizados por populações de bairros vizinhos em Camarate, Apelação, Frielas, Loures, Unhos, Catujal, Olival Basto, Povoa de Sto Adrião e Sacavem onde os quiseram realojar. O País testemunhou o racismo mal disfarçado, mas também a generosidade e a solidariedade que se gerou em torno de quem tinha perdido pela segunda vez a anterior forma de vida. Cidadãos anónimos mostraram-se chocados e deram apoio. A Camarate chegaram alimentos, cobertores e a ajuda da Cruz Vermelha. A escola C+S de Camarate albergou 50 crianças, os bombeiros ofereceram duches, os donos dos cafés permitiram o uso das casas de banho a quem dormia na rua...
Demetrio Alves num golpe de mágica descobriu que provocando os habitantes da Portela que não eram seus clientes, poderia obter dividendos do Governo Central. Foi o que fez e ate teve a ajuda inesperada do Presidente da Junta de Freguesia da Portela que entregou as chaves da Escola Azul e a Cruz Vermelha Portuguesa.
A reportagem foi saber o que aconteceu a essas pessoas deslojadas, adultos e crianças, que protagonizaram a história do maior despejo alguma vez feito em Portugal e que foram alojados posteriormente na Quinta das Sapateiras, em Loures.Quiseram ouvir as memórias que os então desalojados guardaram dos dias e das noites que passaram ao relento, e testemunhar o que mudou na vida dessas pessoas.
Ouviram tambem o saneado Demetrio Alves dizer que tinha aplicado um " pequeno truque politico" com os moradores da Portela.
Pena foi não terem ouvido tambem os intervenientes moradores da Portela que tiveram de lutar contra tudo e contra todos.
O pequeno video que se encontra no sapo em:
http://sic.sapo.pt/online/noticias/sic+tv/perdidos+e+achados , não apresenta a intervenção dos moradores da Portela tal como na reportagem apresentada na SIC.
O trabalho foi da jornalista: Carla Castelo *Imagem: Nuno Fróis *Montagem: Manuel Dias da Silva *Grafismo: Rita Esteves Correia *Produção: Eduarda Batalheiro, Conceição Andrade *Coordenação: Sofia Pinto Coelho *Direcção: Alcides Vieira e um pouco de PorteladosPekeninos