Ruído nocturno faz subir tensão arterial mesmo durante o sono

O ruído nocturno produzido pelo trânsito rodoviário ou por aviões pode aumentar a tensão arterial de uma pessoa, mesmo sem a despertar, indica um estudo hoje publicado no European Heart Journal. Para chegarem a esta conclusão, cientistas do Imperial College de Londres e de outras instituições europeias monitorizaram o sono de voluntários em casas situadas perto da Ponte Vasco da Gama ou do Aeroporto da Portela.
Os autores do estudo andam a medir remotamente a tensão arterial dos voluntários em intervalos de 15 minutos e analisa a relação desses dados com os níveis de ruído registados nos quartos onde dormiam.Os investigadores verificaram que a tensão arterial dos voluntários aumentava significativamente quando estes experimentavam um "acontecimento nocturno" - um ruído superior a 35 decibéis - como durante , o movimento do trânsito na rua o sobrevoo de uma aeronave ou o ressonar de outra pessoa, mesmo no caso de não acordarem.
Segundo estas observações, o ruído do tráfego rodoviário causou um aumento médio de tensão sistólica de 6.2 mmHg e um aumento médio de tensão diastólica de 7.4 mmHg, valores semelhantes aos registados com outras fontes de ruído, como os aviões. O estudo constatou ainda uma relação entre o aumento da tensão arterial e a intensidade do ruído, com um maior aumento da tensão arterial a corresponder a um nível mais elevado de ruído. Por exemplo, por cada aumento de 5dB no ruído de um "acelera" na ponte ou de avião no momento mais intenso verificou-se um aumento de 6.6 mmHg de tensão arterial sistólica.
Decibéis, o factor chave
O factor chave na determinação do efeito do ruído na tensão arterial dos voluntários foi o nível de decibéis, não a origem do som, com a ocorrência de efeitos semelhantes independentemente do tipo de ruído. Pessoas com tensão arterial elevada (hipertensão) correm risco acrescido de desenvolver doença cardíaca, acidente vascular cerebral, doença renal e demência. A Organização Mundial de Saúde define hipertensão a 140/90 mmHg (milímetros de mercúrio). O estudo insere-se num projecto europeu de quatro anos conhecido por HYENA (acrónimo em inglês para Hipertensão e Exposição ao Ruído perto de Aeroportos), que envolve 5.000 voluntários residentes tambem perto de grandes aeroportos. Dados divulgados em 2007 pela associação ambientalista Quercus, com base em dados da ANA - Aeroportos de Portugal, estimavam em 27 mil o número de residentes fortemente afectados pelo ruído dos aviões que chegam e partem da Portela, estando em estudo os afectados agora pela Ponte Vasco da Gama , pelo IC2 junto à Portela, a Moscavide e a Sacavem.